Conheça mais sobre as PICS e saiba como o farmacêutico pode atuar nessa área

Entrevista:

Em 2006, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC) com o objetivo de apoiar e implementar experiências já desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados, como, por exemplo, as abordagens da Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, da Homeopatia e da Fitoterapia. Conforme o Ministério da Saúde, as PICS não substituem o tratamento tradicional. Elas são complementares ao tratamento e indicadas por profissionais específicos, conforme as necessidades de cada caso.
Para explicar um pouco mais sobre as PICS, conversamos com a farmacêutica Anna Clara de Medeiros Brilhante, que trabalha com PICS. Ela vai explicar um pouco sobre o tema e também mostrar como o farmacêutico pode atuar com as PICS.

O que são PICS?

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), também denominadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como medicinas tradicionais, são práticas de ordem física, mental, emocional e energética baseadas em conhecimentos tradicionais de várias culturas ao redor do mundo.

Traga alguns exemplos de tratamentos usados no âmbito das PICS.

Existe uma enorme variedade de PICS, o Ministério da Saúde em sua última atualização em 2017, preconizou 29 delas para disponibilização no SUS.
Os conhecimentos tradicionais por trás das PICS estão intimamente ligados às culturas, por exemplo, a Medicina Tradicional Chinesa e a Acupuntura, a cultura japonesa e o Reiki, a sabedoria de tribos milenares e a utilização de plantas medicinais e de argiloterapia, a cultura indiana e a abordagem ayurvédica, a meditação e o Yoga.

Como os pacientes podem acessar às PICS no SUS?

Existem vários municípios que oferecem PICS nos SUS, podendo estar nas três esferas de complexidade, mas geralmente é mais presente na Atenção Básica. Também existem centros especializados, vinculados à instituições ou não, como o LAPICS vinculado à UFRN e o CERPIC vinculado à Secretaria Municipal de Saúde de Natal.

Qual a importância das PICS no contexto de tratamento em saúde e bem-estar do paciente?

Segundo a OMS, saúde é o resultado do bem-estar e harmonia dos campos sociais, culturais, emocionais, mentais, físicos e espirituais. Cada vez mais tem sido observado que o modelo de tratar doenças apenas com medicamentos negligencia várias dessas esferas, nunca alcançando a integração para um bem-estar total e escalando nosso país na décima colocação da população que mais consome medicamentos no mundo.
A medicina integrativa tem ganhado voz cada vez mais, ao passo que a medicina biologicista deixa lacunas. Enxergar o paciente de forma holística é a base dessa nova abordagem de saúde, que tem aberto muitos campos promissores para os farmacêuticos, seja como preparador e prescritor de medicamentos homeopáticos ou florais, seja formando opinião como pesquisador acerca das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde ou, até mesmo, sendo protagonista de atendimentos com as PICS nos mais diversos ambientes de saúde.

Temos exemplos práticos que mostrem a relevância das PICS no tratamento de saúde?

Grandes hospitais têm adotado a oferta de Práticas Integrativas para seus pacientes por meio de capacitações do seu quadro de profissionais e abrindo ambientes para os pacientes que desejarem ter esse momento de caráter complementar.
A exemplo disso, em uma rede de hospitais nos Estados Unidos, uma pesquisa evidenciou que, após aplicação de Reiki, houve melhora considerável no período pós-operatório de pacientes submetidos a artroplastia total de joelho, de modo que o hospital decidiu treinar uma equipe de dez enfermeiras para atenderem os pacientes que desejassem tal tratamento.
No Brasil e aqui, mais pertinho, em Natal, o Hospital Universitário Onofre Lopes e a Maternidade Escola Januário Cicco também tiveram alguns profissionais capacitados e a oferta das PICS ainda está em fase de implantação.
Vale lembrar a existência de muitas pesquisas e congressos feitos por instituições renomadas, como é o caso do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, abordando Medicina Integrativa e Oncologia Integrativa neste mês de Setembro. Vários municípios têm implantado centros de realização dessas práticas, sejam vinculados às universidades ou não, como é o caso do LAPICS e do SERPIC, ambos em Natal, e NUPICS em Mossoró.

Como o farmacêutico pode atuar nas PICS?

Desde a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, o farmacêutico ganhou seu espaço na equipe de saúde, podendo estar mais próximo do paciente e também desenvolvendo o seu cuidado. No entanto, estávamos, por muitas vezes, restritos à farmacoterapia e aos cuidados com os medicamentos. Hoje, com uma gama diferenciada de tratamentos não-medicamentosos, também reajustamos o foco em acompanhamento à marcha da Medicina Integrativa, trazendo-o para o paciente e não à doença.
O farmacêutico, tendo a capacitação para tal, pode oferecer essa nova forma de cuidar para os seus pacientes, transformando para além acolhimento humanizado e acompanhamento, oferecendo um tratamento complementar de caráter integral, sendo agente na saúde não só por meio do acompanhamento farmacoterapêutico, mas também contemplando aspectos energéticos, emocionais, mentais, espirituais e sociais do indivíduo.
O Conselho Federal, por meio das Resoluções n° 572 de 2013 e a n° 611 de 2015 reconhece seis práticas como especialidades do farmacêutico. Já a Portaria n° 1.988 de 2018 atualiza os procedimentos e serviço especializado de Práticas Integrativas e Complementares na Tabela de Procedimentos Medicamentos Órteses Próteses e Materiais Especiais do SUS, conferindo ao profissional farmacêutico a atuação em quase todas as práticas da Política Nacional.
A inovação e a adaptabilidade são habilidades primordiais para todas as profissões hoje e, quando aliadas à versatilidade e amplitude do profissional farmacêutico, nos garante a permanência enquanto bons profissionais do passado, presente e futuro.
As mudanças são inerentes ao ciclo das coisas e cabe a nós as realizarmos de forma segura, responsável e profissional. Estamos sendo convidados a olhar ainda mais profundamente para o paciente por trás dos horários de tomada dos medicamentos, das interações medicamentosas e da sua polifarmácia, a reconhecê-lo como um organismo complexo que não pode mais ser dividido em especialidades médicas, uma vez que seus fatores emocionais, sociais, mentais e espirituais também interferem na sua relação com o medicamento e com o seu processo de melhora.

Serviço:

Leia na íntegra o conteúdo da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC):
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnpic.pdf

Lista completa das Práticas Integrativas e Complementares:
https://saude.gov.br/saude-de-a-z/praticas-integrativas-e-complementares

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